Mais de 1.000 homicídios já foram registrados somente esse ano na Região
Metropolitana de São Luís. O número foi indicado segundo dados
divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), e aponta 2014
como o ano mais violento da capital maranhense. Segundo o balanço
oficial da Secretária de Segurança, em 2013, foram mais de 807
homicídios, enquanto em 2012 foram registrados 635.
O alto índice de assassinatos contabilizados esse ano na capital, tem
criado um clima de insegurança entre a população, pois a cada mês a
estatística aponta que a violência cresca cada vez mais. Somente em
novembro, o mês mais violento até o momento, 103 pessoas foram vítimas
de assassinato na cidade. Segundo uma pesquisa realizada pelo
Observatório da Violência,São Luís é a segunda capital brasileira com
maior aumento nos registros de homicídios em todo o país, um crescimento
de 400% na última década.
A cidade já figura desde 2011 entre as trinta cidades mais perigosas do
mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ocupando
atualmente a décima quinta colocação. A pesquisa também mostra que as
vítimas desse crime são, em maior parte, homens (98%) e negros (85%).
Outro aspecto desse tipo de crime levantado é o uso de armas de fogo,
que chega a 54% nos homicídios praticados em todo o Maranhão, sendo que
74% dos crimes no estado são cometidos em São Luís.
Diante desse cenário, O Imparcial conversou com entidades, agentes
públicos e pessoas ligadas aos Direitos Humanos, para saber o porquê do
aumento significativo no número de homicídio, como esse quantitativo tem
causado uma sensação de insegurança entre os moradores da capital e o
que pode ser feito para inibir a violência em São Luís.
Para Zema Ribeiro, diretor da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos,
entidade independente que busca discutir, fiscalizar e defender a
garantia dos direitos humanos no estado, o atual cenário da violência no
estado é reflexo de uma política de segurança ineficiente pelo governo.
“O que nós estamos vendo hoje não só em São Luís, mas em todo o estado
do Maranhão é o resultado da ineficácia do Estado no controle da
criminalidade. O governo acreditou que colocando apenas policiais nas
ruas a segurança do cidadão já estaria garantida.”, declarou. Ele também
ressaltouquea explosão de assassinatos dentro do Complexo Penitenciário
de Pedrinhas é uma das provas que a violência em São Luís está em um
nível descontrolado.
Já para Luís Antônio Pedrosa, presidente da Comissão de Direitos Humanos
da Ordem de Advogados do Brasil (OAB), o cenário é assustador e precisa
de mais atenção. “O cenário atualé apavorante, principalmente quando se
observa o número de assassinatos que a capital vem registrando, o que a
coloca, inclusive, entre as cidades onde houve o maior aumento no
número de homicídios no país.”. Para Pedrosa é preciso haver uma
reformulação profunda no próprio conceito de segurança pública. “A
segurança pública deve se articular com outras políticas públicas.
Educação, saúde, cultura. A violência não pode ser tratada de forma
isolada. Outro grande erro do governo do Maranhão foi acreditar que um
trabalho repressivo da polícia diminuiria a criminalidade, o que não
aconteceu. Deve-se ter uma polícia preventiva, que se articule com a
comunidade, que busque de forma inteligente combater principalmente o
tráfico. O modelo de segurança atual no Maranhão é arcaico e perigoso”,
finalizou.
Jhonatan Soares, de 25 anos, conhece bem essa realidade. Morador do
bairro da Cidade Olímpica, localidade com um dos maiores índices de
homicídios da capital, ele convive diariamente com as mortes germinadas
pelo tráfico de drogas e a guerra entre policiais e criminosos. Jhonatan
é Conselheiro Tutelar e tenta juntamente com a Pastoral da Juventude,
ligada a Igreja Católica, mudar essa esfera tétrica e repleta de
selvageria. “A atual gestão tem criado uma política de repressão que
gera medo nos moradores de bairros da periferia. Nós que moramos nessas
regiões temos medo da polícia, que ao invés de trazer segurança, nos
apresenta a morte, pois os policiais acabam tratando toda e qualquer
pessoa da região como bandido. Isso nos coloca em uma linha tênue entre o
tráfico e a polícia.”, elucidou Jhonatan.
Quem também lamenta o atual cenário da criminalidade na capital
maranhense é o arcebispo de São Luís, dom Belisário, que vê na escalada
da violência a ausência de políticas públicas principalmente para os
jovens. “As principais vítimas dos assassinatos no país são jovens,
pobres, negros e do sexo masculino. Há um verdadeiro extermínio dessa
população, e isso ocorre principalmente porque não há educação, não há
emprego e melhores oportunidades para esses jovens, o que acaba fazendo
com que o mundo do crime e do tráfico se torne algo realmente
atrativo.”, declarou. Sobre o trabalho realizado pela igreja Católica, o
arcebispo ressaltou: “Nós temos muitos grupos ligados à igreja que
fazem trabalhos com esses jovens, muitos dos que coordenam esses grupos
são das periferias e conhecem a realidade, mas o trabalho precisa ser
mais amplo, deve integrar outros setores. A sociedade precisa participar
diretamente e não exclui-los se quiser realmente vencer a
criminalidade”.
É preciso ressaltar que, desde janeiro de 2013 até o encerramento desta
edição de O Imparcial, já aconteceram 2037 casos de homicídios na Grande
São Luís sendo que, dos 50 casos de linchamento no Brasil, 22 foram na
capital maranhense. O bairro com mais registros de assassinatos é a
Cidade Olímpica, com 80 casos, seguido do Coroadinho, Liberdade e Vila
Embratel.
De O Imparcial