Imirante
Segundo
dados do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), uma ONG
internacional, a Somália – onde um ou mais jornalistas foram
assassinados por ano na última década e o Governo se mostra incapaz para
solucionar estes crimes – é o lugar mais perigoso do mundo para se
exercer a profissão, incluindo blogueiros e colunistas.
Estes
números foram apresentados no dia 2 deste mês em assembleia geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) e a Síria não foi incluída porque
está em guerra. Vendo estes números, é assustador pensar que nas duas
últimas semanas dois blogueiros foram assinados no interior do Maranhão.
O caso mais famoso no Estado é o do jornalista Décio Sá, morto em um
bar, em 2012, na Avenida Litorânea.
Enquanto a Superintendência de
Homicídios e Proteção a Pessoa (SHPP), órgão vinculado a Secretaria de
Segurança Pública do Estado, investiga os crimes, jornalistas e
blogueiros, principalmente os que escrevem sobre política, convivem com o
medo e constantes ameaças. No último sábado (21), Orislandio Timóteo
Araújo, o Roberto Lano, foi assassinado a tiros na cidade de Buriticupu
(a 407 quilômetros de São Luís).
No
dia 13 deste mês, Ítalo Eduardo Diniz Barros, foi morto com quatro
tiros em Governador Nunes Freire ( a 181 quilômetros da capital). Ambos
escreviam sobre política e foram ceifados de forma fria por homens em
motocicletas.
O delegado titular da superintendência de
homicídios, Leonardo Diniz, informou que equipes da SHPP se dirigiram
para o interior no intuito de elucidar os casos. “Já estamos com equipe
em campo e abrimos linhas de investigações sobre o caso de Buriticupu.
Acredito que em pouco tempo vamos poder apresentar algo de concreto.
Quanto ao crime de Nunes Freire, demos apoio à superintendência do
interior e estamos acompanhando de perto”, explicou.
O delegado
titular da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic),
Thiago Bardal, acredita que esses assassinatos estão diretamente ligados
a crimes políticos. “Estes crimes são para intimidar, com certeza. Como
a polícia não tem bola de cristal, nós iniciamos investigações após
denúncias. E como a polícia do Maranhão vem cada vez mais fechando o
cerco contra criminosos, principalmente nas cidades do interior, estes
crimes começaram a aumentar”, disse.
Ameaças, medo e descaso
Não
é preciso muito esforço para encontrar profissionais que convivem com o
medo. Chefe de reportagem do jornal O Estado e blogueiro, o jornalista
Daniel Matos afirma que as ameaças são constantes. “Recebo ameaças
constantemente, principalmente em comentários no meu blog. Até ligações
com esse teor eu recebi. Geralmente estas ameaças ficam apenas no campo
da intimidação, mas convivemos com isso sim”, contou.
Editor
de política de O Estado e também blogueiro, o jornalista Marco Aurélio
D’Eça acredita que quem trabalha com blog acaba despertando ainda mais
ódio, até de autoridades como a polícia e o poder judiciário. “Agente
se sente ameaçado o tempo inteiro. Há insinuações e intimidações. O
problema principal, ao meu ver, é que blogueiros são vistos com forte
antipatia pelas autoridades. A polícia e o judiciário nos enxerga com
raiva. Por isso, vemos certo descaso nas apurações destes crimes”, asseverou.
Caso Décio Sá
A
observação do jornalista Marco D’Eça sobre o descaso na apuração destes
crimes chama atenção para um dado apresentado pelo CPJ na ONU. O
Brasil, com 11 casos de assassinatos de jornalistas não resolvidos desde
2008, quando começou esta contagem, ocupa o 11º lugar entre os países
mais perigosos para estes profissionais. Segundo o levantamento, na
maioria dos casos, a prestação de contas chegou apenas aos autores
materiais, mas não até os autores intelectuais.
Em São Luís, o
caso mais famoso é o do blogueiro Décio Sá, que foi assassinado no 23 de
abril de 2012, na Avenida Litorânea, com vários tiros. Até hoje, apenas
o assassino confesso, Jhonatan de Sousa Silva, e um comparsa foram
julgados e condenados. Os suspeitos de serem os mandantes do crime
seguem presos, mas ainda não foram condenados.
Dados da pesquisa do CPJ
–
Aproximadamente 96 % das vítimas são jornalistas locais. A maioria
informava sobre a política e a corrupção em seus países natais.
–
As ameaças frequentemente antecedem os homicídios. Em ao menos quatro em
cada 10 assassinatos de jornalistas, as vítimas haviam denunciado
ameaças, que quase nunca são investigadas pelas autoridades.
–
Grupos políticos, entre eles facções armadas, são suspeitos de cometer
46% dos casos de assassinato, um aumento de 6% em relação ao índice de
2014. Funcionários governamentais e militares são considerados os
principais suspeitos em quase 25% dos casos.
– Em apenas 2% dos casos os autores intelectuais foram apresentados e processados.
Por Luis Pablo