da Agência Brasil
Brasília - Quase 30 anos depois de a dengue ter se instalado no
Brasil e apesar de todo o conhecimento sobre o ciclo do mosquito
transmissor – o Aedes aegypti –, a doença ainda é um problema
de saúde pública. Até meados de março já foram registradas 132 mortes e
mais de 714 mil casos da doença em todo o país. Em 2012, no mesmo
período, as notificações chegaram a 190 mil.
Para os gestores da saúde, a população subestima a gravidade da
doença. “Não tem quem não saiba o que é e o que deve fazer para
prevenir. Mas as pessoas ainda estão subestimando o poder dessa doença,
ela mata", alertou Gilsa Rodrigues, coordenadora da vigilância
epidemiológica da Secretaria de Saúde do Espírito Santo, estado que
registrou a maior incidência da doença na Região Sudeste, com 1.171
casos até o fim de março.
“Aqui no Espírito Santo, mais de 70% dos focos são encontrados nos
domicílios, um dado que nos faz refletir sobre a responsabilidade do
cidadão. A secretaria tem orientado as famílias a fixarem um dia na
semana para inspecionar o quintal e a laje, verificar se a caixa d'áqua
está coberta, eliminar todas as possibilidades de o mosquito depositar
os ovos”, explicou Gilsa.
Segundo a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, Denise Valle, um
modelo de combate à doença que deve ser seguido é o adotado em
Singapura, no Sudeste Asiático.
"Singapura conseguiu praticamente zerar a epidemia de dengue
basicamente com uma campanha de mobilização, estimulando as pessoas a
eliminar os criadouros uma vez por semana. Cerca de 16 mil voluntários
[para uma população de cerca de 5 milhões de pessoas], durante seis
finais de semana seguidos, ficaram estimulando e orientando a sociedade a
eliminar todos os criadouros. Eles conseguiram eliminar a epidemia no
pico, o que é muito difícil”, conta a pesquisadora.
Baseado nisso, o Instituto Oswaldo Cruz lançou a campanha 10 Minutos
contra a Dengue, para que as pessoas façam a limpeza dos principais
criadouros do mosquito em suas casas. O instituto ainda lançou vídeos
explicativos pra informar a população sobre o ciclo da doença e como
evitá-la.
Para Maria Aparecida Araújo, diretora da Vigilância Epidemiológica
da Bahia, não dá pra responsabilizar só um setor pelas epidemias de
dengue. “Muitas vezes, os agentes não têm acesso às casas, o município
não tem coleta de lixo adequada, não tem água encanada, o que leva a um
armazenamento de água algumas vezes perigoso."
O superintendente de Vigilância em Saúde do Paraná, Sezifredo Paz,
constatou que todas as cidades que tiveram epidemia no estado tinham
problemas com o manejo inadequado de resíduos sólidos e dos materiais
recicláveis, como copos plásticos e garrafas PET. Segundo ele, a troca
de gestão também contribuiu para agravar a situação. “Constatamos que
70% dos municípios do Paraná onde houve epidemia tiveram mudança de
prefeito. O prefeito que assumiu em janeiro já encontrou um quadro
ruim."
Para Simone Mendes, coordenadora de Dengue e Febre Amarela do
Tocantins, a mudança de comportamento é lenta. “Ainda há muita coisa a
ser feita para que as pessoas se conscientizem. Temos que continuar
fazendo mobilizações. Informação tem que ter o tempo todo."
Em dezembro de 2012, o Ministério da Saúde anunciou o repasse de R$
173,3 milhões para ações de qualificação das atividades de prevenção e
controle da dengue. Em 2011, foram R$ 92,8 milhões. O ministério também
orienta os agentes de saúde a visitarem as residências a cada dois meses
para checar se há focos do mosquito e para alertar a população sobre os
riscos da doença.