Revista Veja – A série
de assassinatos brutais no Complexo Penitenciário de Pedrinhas ao longo
do ano passado deixou um rastro de medo que ainda perdura no Maranhão,
dentro e fora dos presídios, quatro meses depois do ápice da crise. A
situação de emergência fez a Polícia Militar e a Força Nacional
assumirem o patrulhamento em Pedrinhas a pedido do governo do Estado.
Mesmo assim, os detentos voltaram a tentar fugas em massa nas últimas
semanas. Ao menos dezessete conseguiram escapar neste ano – dez de uma
só vez. A eles se somam os presos de “bom comportamento” que ludibriaram
a Justiça no saídão de Páscoa e não voltaram mais. Só em Pedrinhas
foram quarenta, além de sete internos de outras unidades prisionais da
capital maranhense.
Entre os foragidos há criminosos
especializados em assalto a banco, segundo a Polícia Civil, instituição
responsável por recapturá-los. Eles estavam na lista de 240 presos da
Região Metropolitana de São Luís beneficiados com o indulto na Semana
Santa. A juíza Ana Maria Almeida Vieira, da 1ª Vara de Execuções Penais,
disse já ter providenciado novos mandados de prisão.
Entre os dias 8 e 14 de maio, comemoração
do Dia das Mães, outra leva de detentos terá a oportunidade de escapar
da lei sem escalar paredes e grades com cordas feitas de lençol nem
rastejar por túneis cavados de dentro das celas. Desde março, eles já
abriram cinco passagens subterrâneas para fugas em massa do complexo
prisional.
Nada leva a crer que os 47 fugitivos vão
se distanciar do crime. O cenário que eles encontram nas ruas da Grande
São Luís é assustador. O número de homicídios no primeiro trimestre
chegou a 234, alta de 45% ante os 161 dos três primeiros meses do ano
passado. A guerra do tráfico é o motor das mortes, que agora também
atingem parentes dos criminosos.
No último dia 15, Marcone da Costa
Pereira e Domingos Pereira Coelho foram executados a tiros em um
intervalo de três horas. O irmão de Marcone, Irismar Pereira, e o filho
de Domingos, Diego Michael Mendes Coelho, haviam sido decapitados
durante a rebelião de dezembro de 2013 no Centro de Detenção Provisória
(CDP) de Pedrinhas. Os presos apelidaram a unidade de “Cadeião do
Diabo”.
A Polícia Civil prendeu nesta
quinta-feira cinco integrantes da quadrilha responsável pela morte dos
dois familiares dos detentos decapitados no CDP. Eles atuavam na Vila
Embratel, bairro periférico controlado pelo Bonde dos 40, a sanguinária
facção criminosa que disputa os lucros da venda de crack com o Primeiro
Comando do Maranhão (PCM).
A inteligência da polícia também monitora
marginais que ameaçaram de morte a mulher de um criminoso que está
preso. Ela se mudou para um bairro dominado pela a facção rival da que o
marido pertence.
Delegacias – Para tentar
controlar o caos, a governadora Roseana Sarney (PMDB) escalou o cunhado
Ricardo Murad (PMDB) na chefia da pasta da Segurança Pública. Ele
acumula o cargo com o de secretário da Saúde, o que evidencia o status
de “supersecretário” de Roseana. Subordinados de confiança dizem que
Murad é mais bem “articulado” no Palácio dos Leões, sede do governo
maranhense. Logo após assumir, Murad protagonizou uma reunião com o
comando da secretaria da Administração Penitenciária. O encontro traçou
novas estratégias para desvendar os assassinatos no cárcere.
Uma mudança da gestão Murad é que a
Delegacia de Homicídios passou a centralizar as investigações das mortes
de presos, em substituição aos DPs de área. Em uma semana, os
investigadores indiciaram oito companheiros de cela do preso Laurêncio
Silva, de 24 anos, Centro de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ) do
Anil. Ele foi enforcado com um fio de nylon – os acusados tentaram
simular um suicídio por enforcamento.
Laurêncio Silva foi o 14º detento
assassinado neste ano enquanto estava sob custódia do Estado do Maranhão
– sete morreram no Complexo de Pedrinhas. O governo Roseana aposta na
inauguração de duas novas penitenciárias de segurança máxima em São Luís
para estancar a matança. Mas ainda não há indícios de que a lei do
crime vai deixar de valer no cárcere.