domingo, 16 de fevereiro de 2014

Política e políticos, males necessários



Ao contrário do que muitos possam imaginar, eu não gosto de política. Já gostei, mas isso foi em um tempo em que eu acreditava que, junto a outros jovens pelo mundo à fora, podíamos renovar o planeta e salvar a Humanidade.

Hoje, não gosto dos caminhos da política, o que não significa que seja apolítico, pois isso seria a negação de mim mesmo como cidadão.  Aliás, aprendi a perceber que aquele que se diz apolítico geralmente é de direita, ou seja, é um ser político como qualquer um de nós, com ideologia e posicionamentos conservadores (estou evitando a palavra reacionários). A turma da classe média que andou nas ruas em junho – antes do fenômeno dos Black Blocs - , por exemplo, dizia questionar a política, mas estava ali com um propósito político bem determinado...
Não gosto dos caminhos da política, mas considero-a um mal necessário. Sem ela, prevaleceria apenas o arbítrio, a barbárie, a primitiva lei do mais forte, o  caos enfim. Não se interessar por ela é fazer como o avestruz, que enfia a cabeça no chão para não ver as consequências do perigo pressentido.  Não sei quanto ao avestruz, mas nós, humanos, se agirmos desse modo corremos o risco de ter a cabeça decepada...
Então, ficamos assim: não gosto da política, mas continuo me interessando por ela. Um paradoxo, talvez, mas para mim faz sentido. Quando fechamos  os olhos para os fatos políticos, condenamo-nos  à cegueira diante da realidade que nos acompanha no cotidiano e facilitamos a vida daqueles oportunistas que, de olhos bem abertos sempre,  estão permanentemente  dispostos a fazer valer interesses que não são os nossos.
Essas considerações vêm a propósito de reflexões que um dia desses me peguei  fazendo sobre um dos maiores símbolos da política nacional nos últimos cinquenta anos. Refiro-me a José Sarney. E não se assustem, porque ainda não enlouqueci  a ponto de fazer um texto laudatório sobre o Sarney. Pelo contrário, penso que ele simboliza muito do que rejeito na política, principalmente nos campos da ética e da ideologia.
O fato, porém, é que o homem é emblemático. É difícil encontrar um brasileiro que, nas últimas cinco décadas, não tenha estado, em algum momento,  do mesmo lado que ele, no campo político. 
Essa característica camaleônica do político maranhense simboliza, a meu ver, o maior dos males do processo político no Brasil.
Se você é daqueles que chama o golpe  de 1964 de “revolução” e considera que o país foi libertado pelos militares de um iminente golpe comunista, certamente esteve, e muitos anos, do mesmo lado do Sarney, uma das grandes expressões civis da ditadura, que chegou , inclusive, a presidir a Arena,  partido de sustentação do arbítrio que vigorou entre nós durante vinte anos, naquele arremedo “democrático” que os militares nos impuseram.
Se você, porém, batalhou anos a fio pela queda da ditadura no país, colocando sua mente e seu coração a serviço da derrubada do regime militar, certamente houve um momento em que,  constrangido ou não, ficou ao lado de Sarney, o vice na eleição indireta de Tancredo, em uma aliança que ajudou a construir a volta dos civis ao poder.
E muita gente então – não sei se você – acabou aceitando a fatalidade de ver José Sarney como Presidente da República, em uma espécie de exemplificação do ditado “dos males, o menor”.  Muitos assumiram neste país as funções de “fiscal do Sarney” , quando foi posto em prática um daqueles enganosos planos econômicos que valeram ao maranhense, por alguns meses,  grande prestígio entre os brasileiros.
Se você se indignou com o governo Collor e foi adepto da deposição desse presidente, esteve, direta ou indiretamente, no mesmo campo em que se colocou José Sarney, alvo principal da campanha collorida à Presidência. Mas se acha que Collor foi injustiçado no processo do “impeachment”,  deve ter aprovado, tempos depois, as declarações de Sarney que considerou o fato um mero “acidente” na história nacional.
Se você é chegado a um tucano, deve ser grato a Sarney pelos oito anos de apoio que ele deu aos mandatos de FHC, como um dos sustentáculos políticos de então.  Mas, se seus santos não combinam com o tucanato e pendem para o petismo, aí o caso é de reconhecer que Sarney  tem sido um “aliado” dos governos Lula e Dilma, dentro desse estranho espectro político que se convencionou  responsabilizar pela chamada “governabilidade”.
Finalmente, qualquer que seja o seu candidato à Presidência da República nas próximas eleições, de uma coisa você já pode ter certeza: se ele vencer, você e o Sarney estarão do mesmo lado...
Isso tudo exemplifica como é, realmente, difícil gostar da política. Mesmo  assim,  é preciso, e infelizmente, ter uma grande disposição para engolir sapos, porque essa coisa fascista que anda por aí, de negar total representatividade aos políticos, pode ser a perigosa antessala de algo muito pior.........

 o autor deste artigo: Rodolpho Motta Lima

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