Com cinco jornalistas mortos em 2013, o Brasil se tornou o país mais
letal da América para representantes da mídia, segundo o relatório anual
divulgado nesta quarta-feira 12, em Paris, pela ONG Repórteres sem
Fronteiras (RSF).
A posição era até então do México, um país "muito mais perigoso", de
acordo com a ONG. O Brasil ocupa a 111ª posição no ranking de liberdade
de imprensa da organização, incluindo 180 países, tendo descido três
posições em relação à avaliação anterior.
"Essas mortes trágicas no Brasil são, obviamente, também atribuídas a um
alto nível de violência. O poder do crime organizado em certas regiões
torna muito arriscada a cobertura de temas como corrupção, drogas ou
tráfico ilegal de matérias-primas", afirma o texto.
"Primavera brasileira"
De acordo com a RSF, a repressão aos protestos do ano passado no Brasil
também afetou a imprensa. O relatório observa que "a primavera
brasileira", iniciada com protestos contra aumentos de preços dos
transportes públicos e que se espalharam com o descontentamento com os
gastos para a Copa, levantaram questionamentos sobre "o modelo de mídia
dominante" e evidenciaram "os métodos terríveis ainda utilizados pela
polícia desde o tempo da ditadura".
A RSF ressalta, ainda, que durante os protestos, "cerca de cem
jornalistas foram vítimas de atos de violência, dos quais mais de dois
terços foram atribuídos à polícia".
O Brasil é citado juntamente com os Estados Unidos, como os dois
"gigantes do Novo Mundo que dão mau exemplo". Os EUA caíram 13 posições
na classificação geral em relação ao ano passado, ocupando agora o 46°
lugar do ranking de liberdade de imprensa, ficando abaixo de países como
El Salvador e Romênia.
A RSF acusa cerceamento de jornalistas e suas fontes no país americano,
por meio de processos judiciais, sobretudo no contexto das revelações do
portal Wikileaks e do ex-colaborador da Agência de Segurança Nacional
(NSA) Edward Snowden. A entidade aponta os EUA como um lugar onde "o
argumento da segurança nacional é usado para restringir a liberdade de
informação".
"Jornalistas associados ao terrorismo"
"Mesmo países como os EUA e o Reino Unido já associam jornalistas
investigativos e suas fontes ao terrorismo", criticou o Michael Rediske,
do escritório da RSF em Berlim.
Como exemplo da "perseguição estatal" a jornalistas investigativos, a
entidade citou a imposição de uma pena de prisão de 35 anos ao
informante do Wikileaks Bradley Manning, que agora se chama Chelsea
Manning. Também a caçada a Snowden se destina, segundo a RSF, a
intimidar pessoas que poderiam repassar a jornalistas informações sobre a
má conduta de governos e autoridades.
O Reino Unido caiu três posições, ocupando a posição 33. A Repórteres
Sem Fronteiras criticou o país, que pressionou o jornal Guardian por
causa de suas revelações sobre o caso NSA, tendo obrigado o periódico a
destruir discos rígidos com informações de Snowden.
A situação das mídias piorou de forma dramática na Grécia, que despencou
do lugar 14 para a posição 99 no ranking. No intervalo de cinco anos, o
país, debilitado pela crise, caiu 50 posições. Entre outras causas para
a queda está o fechamento de emissoras estatais. A pior posição na
União Europeia é da Bulgária, que caiu 12 posições, passando ao lugar
número 100 da classificação, devido principalmente à ação policial
contra jornalistas durante protestos.
Da empresa alemã Deutsche Welle de radiodifusão.