Gabriel Castro, de Brasília para Veja
A presidente Dilma Rousseff começará nas próximas semanas a formalizar novas mudanças em sua equipe ministerial. A legislação eleitoral exige que os ministros que serão candidatos deixem o cargo seis meses antes das eleições. E é justamente pensando nas urnas que a presidente, sempre com seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva a tiracolo, aproveitará a reforma para ceder espaço ao recém-criado Pros, além de dar um ministério ao PTB e até contemplar o PSD com uma segunda pasta. A moeda de troca é a explícita: os minutos a que os partidos têm direito na propaganda eleitoral no rádio e na TV.
Esta deve ser a última grande mudança na equipe ministerial. E o saldo
do governo não é dos melhores. Desde 2011, sem contabilizar as próximas
mudanças, o time de Dilma que ocupa os inacreditáveis 39 ministérios
teve 60 nomes. Serão mais de 70 após a reforma. É verdade que alguns,
como a paranaense Gleisi Hoffmann (Casa Civil), por exemplo, ganharam
cacife durante a gestão petista. Mas, na balança, o governo foi marcado
por ministros que se destacaram pelas trapalhadas ou foram defenestrados
por envolvimento em irregularidades. Sete ministros caíram por causa de
denúncias de corrupção – começando pelo primeiro homem forte do
governo, Antonio Palocci (Casa Civil). Outros, como Maria do Rosário,
dos Direitos Humanos, só apareceram por causa de declarações
inconvenientes. E alguns passaram em branco: Tereza Campello, do
Desenvolvimento Social, comanda o Bolsa Família, mas estava de férias
quando a crise causada pelo boato do fim do programa estourou.
Refém das más escolhas e da aliança que garante uma base robusta no
Congresso, Dilma teve dificuldades com sua equipe desde o começo da
gestão. Durante os protestos de junho do ano passado, por exemplo, quem
assumiu a interlocução pelo Palácio do Planalto foi Aloizio Mercadante,
ministro da Educação. A articulação política com o Congresso Nacional
nunca foi plenamente exercida pela pasta das Relações Institucionais,
sob o instável comando de Ideli Salvatti.
As trocas constantes, por inépcia ou desvios éticos, tampouco permitiram
que a presidente passasse mais de seis meses com o mesmo time de
ministros. Antonio Palocci deixou a Casa Civil depois de não conseguir
explicar as consultorias que prestou a companhias privadas quando já era
coordenador de campanha de Dilma. Depois, caiu Alfredo Nascimento
(Transportes), arrolado em um esquema de desvio de recursos públicos
para abastecer o caixa do PR, como VEJA revelou. Em seguida, foram
demitidos em série Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo),
Orlando Silva (Esporte), Carlos Lupi (Trabalho) e Mário Negromonte
(Cidades). Dilma, aliás, até tentou usar a derrocada dos ministros para
propagandear que havia promovido uma "faxina ética" no ministério. Mas o
discurso caiu por terra quando ela teve de devolver, por exemplo, a
pasta dos Transportes ao PR em troca de votos no Congresso.
A lista poderia ser maior: outros ministros flagrados em atitudes
condenáveis resistiram por iniciativa da presidente. Foi o caso de
Fernando Pimentel, que recebeu milhões de reais por consultorias
prestadas enquanto já era um dos coordenadores da campanha presidencial.
Outros episódios se tornaram notórios: o chanceler Antonio Patriota
perdeu o cargo após a fuga do senador boliviano Roger Molina para o
Brasil. Já Nelson Jobim, que comandava a Defesa, deixou o posto porque
falou demais – criticou colegas de ministério.
Trapalhadas – O time dos que se destacaram por suas trapalhadas
tem como maior expoente a petista Maria do Rosário, incansável no metiê
de dar declarações inoportunas. No ano passado, ela foi a primeira a
acusar a oposição pelos boatos de que o Bolsa Família seria extinto.
Depois que a tese se mostrou furada, não se preocupou em pedir
desculpas.
A ministra também comandou a exumação do corpo do ex-presidente João
Goulart, propalando a suspeita de que ele foi envenenado – hipótese que
nem mesmo a família do ex-presidente havia levantado. No mais recente
episódio, Maria do Rosário divulgou uma nota afirmando que um jovem
homossexual havia sido "brutalmente assassinado" em São Paulo, sem
aguardar os resultados da investigação da Polícia Civil. Nesta semana, a
própria família acabou admitindo que o rapaz cometeu suicídio, pulando
de um viaduto no cento da capital paulista.
O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, tem
como atribuição o contato do Executivo com os movimentos sociais. Mas,
como mostraram os protestos de junho, falhou em detectar o crescimento
da insatisfação popular (e depois teve auxiliares flagrados na linha de
frente de um quebra-quebra contra a Copa das Confederações). O petista
também usou o posto como palanque para atacar a oposição e se enrolou,
por exemplo, ao disparar declarações descabidas sobre evangélicos
(tratados como adversários do PT) e ao fracassar na interlocução do
Planalto com indígenas.
Iriny Lopes, que passou treze meses à frente da Secretaria de Políticas
para as Mulheres, também se lançou em batalhas quixotescas. Em uma
delas, brigou para retirar do ar uma propaganda em que a modelo Gisele
Bundchen aparecia de lingerie. Era machismo, bradou a ministra. Em outra
ocasião, Iriny emitiu uma nota pública exigindo que o autor Aguinaldo
Silva adaptasse uma novela da Globo para que uma personagem vítima de
violência doméstica procurasse um serviço do governo.
A lista de nomes olvidáveis (e devidamente olvidados) é extensa. Alguém
sabe, por exemplo, o que faz Marcelo Néri, o comandante da Secretaria de
Assuntos Estratégicos? "São muitos descontroles que comprometem a
eficiência do governo Dilma. A máquina está emperrada e há interesses
difusos", afirma o cientista político Antonio Flávio Testa, pesquisador
da Universidade de Brasília (UnB). Ele chama atenção para o fato de que o
excesso de ministérios e o loteamento de cargos entre partidos e alas
do PT comprometem a eficiência da gestão. Com a perspectiva de que a
reforma ministerial seja usada para preparar o cenário eleitoral de
outubro, há muito poucas chances de mudança.
As constantes alterações na equipe favoreceram alguns ministros, que
conseguriam ganhar espaço na gestão de Dilma Rousseff. Entre eles, estão
Gleisi Hoffmann, que estava no primeiro ano de mandato no Senado quando
assumiu a Casa Civil e agora, com mais cacife político, vai se
candidatar ao governo do Paraná. Aloizio Mercadante, por sua vez,
começou o governo no Ministério de Ciência e Tecnologia, passou para a
Educação e agora comandará o posto mais importante da equipe ministerial
no lugar de Gleisi.