Em uma "carta aberta ao povo de
Deus", 13 bispos convocam para uma "caminhada silenciosa" no dia 2 de
fevereiro e fazem críticas ao estado do Maranhão, que vive atualmente
uma crise de violência e no sistema carcerário. O texto reconhece que o
estado governado por Roseana Sarney (PMDB) aumentou sua riqueza, mas faz
menção à sua marcante desigualdade social.
"Vivemos num Estado que erradicou a febre aftosa do gado, mas que não é
capaz de eliminar doenças tão antigas como a hanseníase, a tuberculose e
a leishmaniose", diz trecho da carta. "É verdade que a riqueza no
Maranhão aumentou. Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a
desigualdade social. Os índices de desenvolvimento humano permanecem
entre os mais baixos do Brasil", continua.
Os
líderes da Igreja Católica afirmam que "a cultura de paz", que "tanto
almejamos", "é também tarefa nossa", e que a caminhada do dia 2 é um
"gesto concreto" nesse sentido – "como expressão do nosso compromisso
com a justiça e a paz". Os bispos falam ainda da necessidade de
"assumirmos nossa responsabilidade social" a fim de se construir uma
sociedade de irmãs e irmãos que convivam na igualdade, na fraternidade e
na paz".
Leia a íntegra da carta abaixo:
EM CARTA ABERTA AO POVO DE DEUS, OS BISPOS DO MARANHÃO CONVOCAM PARA O
DIA 2 DE FEVEREIRO CAMINHADA SILENCIOSA EM DEFESA DA VIDA. VEJA A CARTA
DOS BISPOS SOBRE A SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO ESTADO:
Ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade
"Justiça e paz se abraçarão" (Sl 85,11)"
Ainda estão vivas em nós a forte emoção e dor, provocadas pelos últimos
acontecimentos no Estado do Maranhão – a morte violenta da Ana Clara,
criança de seis anos que faleceu após ter seu corpo queimado nos ataques
a ônibus; os cruéis assassinatos no Complexo Penitenciário de
Pedrinhas; o clima de terror e medo vivido na cidade de São Luís.
A nossa sociedade está se tornando cada vez mais violenta. É nosso
parecer que essa violência é resultado de um modelo econômico-social que
está sendo construído.
A agressão
está presente na expulsão do homem do campo; na concentração das terras
nas mãos de poucos; nos despejos em bairros pobres e periferias de
nossas cidades; nos altos índices de trabalhadores que vivem em
situações de exploração extrema, no trabalho escravo; no extermínio dos
jovens; na auto-destruição pelas drogas; na prostituição e exploração
sexual; no desrespeito aos territórios de indígenas e quilombolas; no
uso predatório da natureza.
Esta
cultura da violência, aliada à morosidade da Justiça e à ausência de
políticas públicas, resulta em cárceres cheios de jovens, em sua maioria
negros e pobres. O nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao
contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime.
Não nos devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda
mais frustradas que veem na vida do crime a única saída para o seu
futuro.
Vivemos num Estado que
erradicou a febre aftosa do gado, mas que não é capaz de eliminar
doenças tão antigas como a hanseníase, a tuberculose e a leishmaniose.
É verdade que a riqueza no Maranhão aumentou. Está, porém, acumulada em
mãos de poucos, crescendo a desigualdade social. Os índices de
desenvolvimento humano permanecem entre os mais baixos do Brasil.
Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que nós
queremos! Como discípulos missionários de Jesus, estamos comprometidos,
junto a todas as pessoas de boa vontade, na construção de uma sociedade
fraterna e solidária, sem desigualdades, sem exclusão e sem violência,
onde a "justiça e a paz se abraçarão" (Sl 85,11).
A cultura do amor e paz, que tanto almejamos, é um dom de Deus, mas é
também tarefa nossa. Nós, bispos do Maranhão, convocamos aos fieis
católicos e a todas as pessoas que buscam um mundo melhor a realizarem
um gesto concreto no próximo dia 2 de fevereiro, como expressão do nosso
compromisso com a justiça e a paz. Neste dia – Festa da Apresentação do
Senhor, Luz do mundo, e de
Nossa
Senhora das Candeias –, pedimos que se realize em todas as comunidades
uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração. Às
pessoas comprometidas com esta causa e às que não puderem participar da
celebração sugerimos que acendam uma vela em frente à sua residência,
como sinal do seu empenho em favor da paz.
Invocando a proteção de Nossa Senhora, Rainha da Paz, rogamos que o
Espírito nos oriente no sentido de assumirmos nossa responsabilidade
social e política para construirmos uma sociedade de irmãs e irmãos que
convivam na igualdade, na fraternidade e na paz.
Centro de Formação de Mangabeiras-Pinheiro - MA, 15 de janeiro de 2014
Dom Armando Martin Gutierrez
Dom Carlo Ellena
Dom Élio Rama
Dom Enemésio Lazzaris
Dom Franco Cuter
Dom Gilberto Pastana de Oliveira
Dom José Belisário da Silva
Dom José Soares Filho
Dom José Valdeci Santos Mendes
Dom Sebastião Bandeira Coêlho
Dom Sebastião Lima Duarte
Dom Vilsom Basso
Dom Xavier Gilles
Do Jornal do Brasil