Não tem mais jeito: está aberta a temporada eleitoral. A imprensa
costuma dizer que os políticos a antecipam, mas bem que ela gosta do
ambiente, propício a especulações, pareceres de especialistas e muita
possibilidade de armação embutida...
Mesmo achando que é cedo demais, vou tentar analisar, a partir de
minha visão do mundo e consequentes convicções ideológicas, o panorama
que se está desenhando. Cabe a expressão “convicções
ideológicas” porque é impossível, nessa matéria, imaginar-se uma
isenção total. Achar, por exemplo, que o Merval ou o Sardenberg vão, em
um momento qualquer de suas vidas, aplaudir uma plataforma que se
coloque, ainda que parcialmente, contra o neoliberalismo, é entrar em
devaneios profundos. A política não só é a arte do possível, mas também
relativiza esse possível, conforme as intenções do poder e os sistemas
econômicos que lhe são impostos.
No meu caso, e sei que há muitos que pensam como eu, não enxergo a
política com ilusões. O que eu desejaria efetivamente para o meu país
está longe do que é possível obter-se. Na nação dos meus sonhos, haveria
educação e saúde totalmente públicas, funcionaria um regime fiscal de
taxação forte das grandes riquezas dos exploradores NO país e DO país,
não se admitiriam os lucros abusivos dos bancos nem a ganância,
incompetência, desrespeito das empresas de telefonia campeãs de
reclamações, existiria uma séria lei dos meios que impediria o
antidemocrático e perverso monopólio da grande mídia comandada por
bilionários e que manipula informações, seria implantado um orçamento
impositivo, sim, mas participativo, com o povo definindo claramente o
que devem fazer os seus representantes.
As utopias nos colocam em paz com a consciência, mas a política nos
traz de volta à realidade. Por isso, e agora sem rodeios, reafirmo minha
posição, diante do quadro que aí está, de que o melhor para o povo
brasileiro (e esse melhor está muito longe do ideal) não é um sistema
que coloca o mercado no topo e reduz a cidadania ao consumo e o Estado a
mero executor de interesses de grupos empresariais corporativos. Para
mim, e acredito que para a maioria dos brasileiros, o melhor é a
continuidade das políticas públicas de combate à exclusão e à imensa
desigualdade que ainda marcam nossa sociedade.
Tudo sem ilusões. As fraudes e falcatruas que o país experimenta
desde sempre jamais se encerrarão em um passe de mágica, como querem
fazer crer os hipócritas jornalistas subservientes aos patrões, só
porque está terminando o suspeitíssimo processo do “mensalão”.
Continuarão a existir, não porque petistas ou quaisquer outros “istas”
ocupem o poder, mas porque são endêmicas e fazem parte desse sistema em
que vivemos, calcado na acumulação indevida do capital, na ganância dos
espertalhões. Não é verdade – e qualquer cidadão bem informado sabe
disso - que esse tenha sido, como apregoa a mídia de oposição, “um
julgamento para ficar na história”. Foi, sim, um julgamento onde o
caráter político atropelou o jurídico para tentar alterar a história,
com aparato midiático jamais visto no país e expectativas bem nítidas,
quase golpistas, de que pudesse influenciar o processo eleitoral, o de
2010 e o de agora.
Será um julgamento histórico se, em razão da forma como se deu, vier a
levar às ruas os cidadãos efetivamente interessados em combater a
corrupção, para exigir outras apurações, conclusões e, se for o caso,
punições. Será um julgamento histórico se, apesar do casuísmo que o
motivou, puder deflagrar uma investigação séria sobre o denunciado
processo de privataria no governo FHC, vier a colocar em juízo o
mensalão mineiro (anterior ao petista, até hoje não julgado), propiciar o
exame transparente do volumoso caso Cachoeira (o que é feito do
Demóstenes?), da corrupção de Brasília com políticos do DEM (e o
Arruda?), dos apregoados problemas dos governos tucanos e as propinas
para o favorecimento de empresas multinacionais, dos desvios praticados e
explicitados à farta na Prefeitura do Kassab etc etc etc
As pessoas podem e devem ter seus posicionamentos políticos e/ou
ideológicos sem que, por isso, compactuem com erros. Não dá é para ser
míope por conveniência e aceitar essa orquestrada compulsão da mídia
intencionalmente caolha, ou a hipócrita cruzada dos tucanos e de outros
bichos contra a suposta imoralidade DOS OUTROS, livrando a cara dos seus
“correligionários”.
Acho, e posso estar errado, que o que vem por aí vai frustrar os que
imaginam que esse oba-oba feito em torno do mensalão vá alterar o quadro
eleitoral . O povo, que não é bobo, percebe intenções não reveladas.
Acredito que Dilma continua a ter as melhores condições de ser eleita
- e isso se reflete até agora nas pesquisas - porque são importantes
para o povo em geral as medidas sociais que vêm sendo implementadas e
não parece haver outra candidatura mais voltada para isso. Acredito que
essa maioria que a elegeu voltará a fazê-lo, em primeiro ou segundo
turno, apesar de não ter dúvidas sobre as tentativas que se fazem e se
farão com intensidade crescente, para desqualificar seu governo.
Claro, quem não pensa como eu pode achar que Aécio ou Serra sejam
melhores opções. Quem quer o Estado mínimo, o primado do particular
sobre o coletivo, tem mesmo que defender o neo-liberalismo. E há também
uma terceira corrente, resultado da união de Marina (a que “pintou o seu
rosto” com outras cores e consegue falar muito sem dizer nada) e
Eduardo (o que, depois de 11 anos ao lado do PT, promete agora “mais do
mesmo”). Difícil crer que os dois emplaquem juntos, pois suas ideias
são claramente conflitantes.
É isso. Minhas escolhas políticas estarão sempre voltadas para quem
combate a miséria e a desigualdade. Escolho o que mais se aproxima dos
meus sentimentos, mas, sempre, com os pés no chão.
autor deste artigo Rodolpho Motta Lima