terça-feira, 17 de setembro de 2013

Que caiam as máscaras!



O pensamento, com a liberdade de escolher os caminhos que bem entende, faz, às vezes, com que construamos as mais estranhas ligações. Essa discussão sobre se pode ou não haver mascarados nas manifestações de rua me lembrou  uma composição lançada para um carnaval dos anos 60:  “Máscara Negra”, de Ze Keti.

Você pensará, obviamente, que a associação direta é com os Black Blocs, esse grupo anárquico que anda por aí assustando a tradição, as famílias e as propriedades da  classe média com atitudes que misturam a revolta saudável com uma pra lá de discutível ação predatória, que mais afasta que aproxima, impedindo que se ouça com ouvidos atentos o que têm a dizer.
Mas não foi neles que pensei, a não ser como detonadores (aqui no bom sentido) de outros pensamentos, ligados a outras máscaras negras que andam por aí e que ninguém pensa (ainda) em proibir.
A música de Ze Keti fala em “mais de mil palhaços no salão” e foi essa passagem que me fisgou. Não estamos no carnaval, estamos bem longe daquela época em que os brasileiros entoavam os versos da composição, nos quais  pierrôs, arlequins e colombinas compunham o clássico drama amoroso, enquanto um outro drama, o do país inteiro, se desenrolava no campo das liberdades democráticas.   
Mas as máscaras e os palhaços – bem mais que mil - estão aí, por todos os cantos,  no grande  salão brasileiro. A variedade de umas e de outros é incrível. Há os que se mascaram de democratas ou de defensores da moralidade, uma forma antiga usada no país, mas só quando  interessa,  para mais facilmente violentar os princípios da democracia. Esses estão em todos os setores, com corporativismos imorais e casuísmos inaceitáveis. As máscaras de alguns não são negras, são até brancas, para combinar com os jalecos do preconceito, da intolerância e da insensibilidade, venenos que andam destilando perversamente por aí.
Há os mascarados do voto, aqueles que se escondem atrás de máscaras legais – de todas as cores, diga-se – para negar-nos o direito de saber como nos estão representando, ou melhor, como estão defendendo interesses mesquinhos e/ou negociatas diversas que não têm nada a ver conosco. Quando parece que vão enfim, mostrar sua cara, sempre aparece alguém para dizer frases emblemáticas do tipo “não é bem assim”. Como fizeram com a ideia do plebiscito, por exemplo.  Essa é a turma do bloco “Mudar para deixar como está”.
Há máscaras importadas, feitas com um material especial, a subserviência, compradas em moeda estrangeira. Os que as usam assumem imediatamente os ares das terras onde são produzidas e saem por aí, nas redes sociais da vida ou fora delas, admitindo, com o tal complexo de vira-latas de que falava Nelson Rodrigues, que é preciso conviver com os superespiões planetários porque, afinal, “eles são mais fortes que nós”. Essa turma vive sonhando em trocar uma estrela verde-amarela por outra naquela outra bandeira do norte...  Um conhecido produtor e crítico musical, tão bom nessa área das artes quanto não o é na política, deixou gravado na coluna do jornal em que escreve que “na era da internet espiona quem pode, defende-se quem for capaz...”.   Eles também têm máscaras especialmente produzidas contra as perversas armas químicas, talvez lembrando-se de relatos antigos de bombas atômicas jogadas sobre os japoneses civis, ou de napalm lançado nos vietnamitas, ou, bem recentemente , dos aviões não pilotados que matam indiscriminadamente os inocentes da hora errada no lugar errado...    
Há outras máscaras por aí, que a gente não vê de cara (ou na cara) , mas existem: a máscara dos jornalistas “descomprometidos”, que cobrem com absoluta fidelidade os fatos  que interessam aos seus patrões  e procuram ouvir exaustivamente todas as vozes capazes de dizer o que lhes interessa...e só. São auxiliados, nessa missão altamente louvável, por “especialistas” de plantão, ávidos por colocarem suas mentes à disposição. 
Há as máscaras dos artistas. Muitos deles (ou serão poucos?), justiça seja feita, preservam  as máscaras que simbolizam a origem histórica da sua atividade, mas há outros que há muito trocaram as originais por outras, em que a glória da fama - efêmera ou não –  sufoca e tritura as suas responsabilidades sociais e a sua busca estética. E fazem o que dá dinheiro...
Há máscaras de Super-homem ou de Batman (a escolher), heróis contemporâneos a serviço de uma justiça que não é cega, porque é caolha e só enxerga um lado do direito, em uma visão maniqueísta que busca obter as vantagens da exposição garantida pela mídia ávida de vinganças pontuais, a mídia que lhes garante a “opinião publicada” e forja a “opinião pública”. 
E aí chegamos aos palhaços, também mascarados e espalhados pela pátria, muito mais de mil, iludidos por um aparelho de tevê na sala, avessos a informações diferenciadas, arrogantes e rancorosos nas suas superficiais convicções e sempre dispostos a frequentar, denotativa ou conotativamente, as mesmas festas e os mesmos salões dos disfarçados que andam por aí.  Gente que, no tempo do egocentrismo e do consumismo, quer ser como eles, mas a quem dirijo, para reflexão, os versos de Raimundo Correa: “Se se pudesse, o espírito que chora, / Ver através da máscara da face, / Quanta gente, talvez, que inveja agora / Nos causa, então piedade nos causasse!”
Claro que há muitas outras máscaras. Quem me lê neste momento pode identificar outras, diferentes das que denuncio, até contrárias às que enxergo. Isso acontece quando somos de blocos diferentes. Ou, se quiserem, quando frequentamos escolas diferentes... De qualquer forma, penso que, antes de tirar as máscaras dos manifestantes de rua, que pelo menos perseguem algo em que acreditam e que vai além dos seus umbigos,  muitas outras máscaras deveriam cair neste país que, apesar delas e contra elas, vai caminhando rumo ao seus desígnios maiores.

 autor deste artigo Rodolpho Motta Lima

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