Trabalho no estado de Connecticut como Intérprete Judicial e,
dentro do Código de Ética da profissão, não posso revelar detalhes de
julgamentos em que atuo.
Mas possa falar de fatos passados com os réus, desde que não se atenham aos autos do processo.
Foi assim que recentemente fiquei conversando com um cidadão
português, enquanto aguardávamos a chamada para entrar na sala de
sessões.
Muito falante, ele contou-me que seu pai tinha uma fazenda em
Portugal, quase na fronteira com a Espanha, onde ele trabalhava quando
menino, em anos já remotos.
Disse-me então que a família fazia muito contrabando entre Portugal e
Espanha, escondendo a muamba debaixo de cargas em carros de boi.
Disse-me:
- Os guardas da fronteira sabiam, mas deixavam passar, porque lhes dávamos um dinheirinho.
Continuou:
- Você sabe, há muita corrupção em Portugal.
E concluiu:
- É como no Brasil.
- Claro - respondi-lhe. Afinal, fomos colonizados por vocês.
A história lembrou-me também de um fato verídico, ocorrido com moça
brasileira educada em país escandinavo que visitava a família no Rio e
foi parada por um guarda de trânsito, pois estacionara irregularmente.
O agente da lei pediu-lhe uma “cervejinha”.
A moça, em sua inocência, e tendo a alma generosa, atravessou a rua e comprou-lhe a bebida, julgando-o sedento.
O caso na fronteira entre Portugal e Espanha é típico, pois a
corrupção que herdamos é ibérica. Vem dos dois países, foi implantada no
Brasil logo no início de nossa história, com as Capitanias
Hereditárias, e somos todos cúmplices, pois nosso hábito de lubrificar
as mãos de agentes da lei, sejam guardas de trânsito ou funcionários em
qualquer outra capacidade, com “cervejinhas” e outros mimos, sobe toda a
escala de nossa sociedade, até os gabinetes parlamentares, judiciais e
presidenciais.
No Brasil, infelizmente, nada anda sem suborno e não adianta discutir
se os pilantras são deste ou daquele partido. São de todos.
Por isto, ninguém precisa exagerar, como numa história que corre na
Internet sobre os muitos filhos ilegítimos de D. Pedro I. Que ele os
teve, é verdade, mas a fábula em questão trata de um, Pedro de Alcântara
Brasileiro, que ele gerou com Domitila de Castro, a famosa Marquesa de
Santos - e que morreu com meses de vida - e não com a esposa de um
francês cuja família depois teria se dedicado a extorquir fortunas do
governo brasileiro.
É uma ligação que querem fazer com Renan Calheiros e seu célebre Renangate, envolvendo sua ex-amante.
Mas não precisam exagerar. Para falar sobre a corrupcão no Brasil
basta, infelizmente, se ater a histórias verídicas de nosso dia-a-dia.
o autor deste artigo José Inácio Werneck - Bristol