O poder da TV sobre as pessoas é tão grande que
até mesmo quem nela já não trabalha é tratado como se fosse entrar no ar
dali a instantes. Eu explico e tiro por mim a experiência. Onde quer
que eu vá, tem sempre alguém que já acompanhou meu trabalho no Brasil e
pede para que eu analise o momento e o impacto da TV aberta brasileira
na vida do público.
Confesso que, no início, sinto-me retraída e até um
pouco temerosa de meter a colher num bolo do qual já fiz parte, mas
depois vem a sensação de que, com a experiência vivida na telinha por
tantos anos, posso perfeitamente fazer uma análise isenta do que vem
ocorrendo sob a minha ótica, sem necessariamente ser uma verdade
absoluta pra todo mundo.
Dentro do possível, mesmo morando nos EUA, vejo
regularmente TVs brasileiras, já que, graças aos satélites, as temos em
qualquer lugar do mundo hoje, evidentemente com horários e programação
adequados a cada região. Mas, como não vivo muito longe e num fuso
horário de pouca diferença, dá perfeitamente para me sentir “em casa”
para comentar a programação das emissoras brasileiras.
Confesso, mais uma vez, que não consigo entender a
volta dos programas de baixaria, com lavação de roupa suja em público,
como se isso representasse realmente um reality show. Só que tudo soa
tão falso que nós, telespectadores, nos sentimos enganados, mas não
desistimos, vamos até o fim para descobrir qual o limite do ridículo
pela busca de audiência.
Nas emissoras que vivem lutando para se manter num
nível aceitável nos números no Ibope, existe muita igreja pagando alto
por espaços em horário nobre, baixo nível de pseudo justiceiros de
butique e apresentadoras buscando credibilidade quando a cultura não
passa de um decoreba oportunista dos assuntos do momento. E aí, como
buscar a tal vice-liderança que tanto apregoam quando a soma de todas
não chega aos pés daquela que chamam de líder?
Pareço pessimista demais analisando a TV aberta de um
país que está às vésperas de sediar os mais importantes eventos
esportivos do mundo. E talvez os leitores me cobrem uma anáise mais
justa, pelo menos , em relação à Globo, que, apesar de tudo, segue mais
líder do que nunca, não tanto pela sua competência mas pela
incompetência das demais. Parece que estão todas acomodadas em suas
posições e dali não pensam em sair.
Li estes dias na internet sobre o encontro do “Vem aí” global. E posso garantir que senti a sensação de um deja vu
de décadas, quando ao lançar sua programação a Globo manda um recado,
nas entrelinhas, mais ou menos assim: “Este é o mundo real, o que
acontece lá fora não interessa. É sob nossa ótica e nosso enfoque que as
coisas e tendências devem ser absorvidas e seguidas pelo povo
brasileiro. O que interessa são as histórias das nossas novelas, o que
realmente importa é a visão política e econômica dos nossos articulistas
e os textos pragmáticos e distantes da realidade lidos pelos nossos
teleapresentadores”. Pelo menos a mim, essa é a impressão que fica.
Portanto, aos que me pediram para comentar, devo
dizer que é difícil falar sobre a mesmice de todos os anos. Nada de novo
no front televisivo e a grande novidade é um programa que está no ar há
13 anos, o tal Big Brother Brasil, que mal terminou e já anuncia a
realização de teste com candidatos para a próxima edição daqui a um ano.
Mas como dizem que as emissoras fazem o que o povo
quer ver, prefiro botar as barbas de molho, embora não as tenha, e sair
de fininho. Fui.
autor deste artigo Leila Cordeiro