Muitos católicos ao serem perguntados sobre sua religião,
respondem naturalmente: -“Sou católico...não praticante”. Mas como é
isso? Ou a pessoa reza numa determinada cartilha religiosa ou não,
acredita em alguma coisa ou não. Não ser praticante de uma religião é
como se não a tivesse.
Talvez isso explique o número cada vez menor de católicos pelo mundo.
A tal ponto que, na França, estão hoje à venda 43 igrejas católicas, de
acordo com pesquisas das imobiliárias especializadas em vendas de
templos. Segundo os corretores, isso de deve não só à criise, mas também
à falta de doações em consequência da diminuição de fiéis.
De uns dez anos para cá, a situação da igreja católica só tem se
agravado. As milhares de denúncias de pedofilia e abusos sexuais se
sucedem numa velocidade assustadora, em total contramão da fé que
deveria reger a formação e a dignidade desses religiosos que se
aproveitam de sua condição “idolatrada” pelos paroquianos para fazer
valer seus mais torpes e degradantes impulsos.
E aí vem aquela pergunta que não quer calar. Por que esses padres que
aceitaram o celibato como dogma para toda a vida em seus juramentos,
simplesmente não deixam a batina ao sentirem que estão se desviando do
caminho proposto pela religião ou que a tentação carnal começa a
incomodar?
A resposta pode ser mais dura e ferina do que se pode imaginar. Esses
religiosos, que tanta decepção e vergonha levam a seus superiores e
colegas de fé que seguem os mandamentos do celibato com diganidade, nada
mais são do que pessoas com problemas sérios e desvios de
comportamento, como qualquer outro desequilibrado sem batina, mas com a
mesma maldade dos que se escondem atrás dela.
A renúncia do Papa foi, sem dúvida, a gota d’água para que o copo
transbordasse todo o pecado existente em muitos confessionários e
clausuras religiosas espalhados ao redor do mundo. A máscara de uma
instituição que precisa se renovar caiu. A realidade é uma só. O planeta
mudou, as regras hoje são diferentes, o que era proibido virou
politicamente correto e o que era politicamente correto, em muitos
casos, virou desnecessário.
Talvez o celibato esteja entre eles. Não estaria na hora da igreja
rever seus mandamentos rígidos para um ser humano comum e mortal como
qualquer outro? Sem querer desculpar os transviados, mas defendendo
aqueles que devem sentir seus desejos e terem impulsos humanos, não
seria conveniente liberar o casamento, pura e simplesmente, entre duas
pessoas que podem e têm o direito de amar e se relacionar através também
da carne?
Afinal, as evidências estão aí. Por que insistir numa proibição
carnal, quando milhares já mostraram que esse mandamento termina
desobedecido em nome do desejo incontrolável por sexo? E aí está a prova
de que tudo que é proibido ao extremo, sem equilíbrio, pode causar
sérios desvios de comportamento, como os relacionamentos condenáveis e
desprezíveis entre padres e fiéis, envolvendo covardia, abuso de poder e
até ameaças por parte dos religiosos que preferem manter sua aparência
cristã ao assumir que são, na verdade, mundanos e até criminosos. Isso
tudo, sem contar os casos que não vieram à tona talvez por conveniência
da própria igreja ou porque as vítimas têm medo de se expor.
O Papa se vai e deve estar levando muitos segredos na alma e quem
sabe até arrependimentos por não ter tido a coragem de lutar contra os
desvios de tantos, naquela que escolheu como sua doutrina. Sua renúncia,
até agora, não significou esperança para os milhões de católicos que
ainda crêem que há salvação para sua religião.
Que venha o próximo Papa, mais compreensivo e principalmente com a
cabeça voltada para as transformações do mundo, incluindo em sua jornada
uma cruzada em favor da abertura para o casamento de padres e bispos,
na tentativa de, ao fazê-los mais humanos, possam trilhar
verdadeiramente os caminhos da fé, do qual tantos se desviaram.
autor deste artigoLeila Cordeiro
autor deste artigoLeila Cordeiro