sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Nacib virou Tufão

Milhões de brasileiros cresceram tutelados pelo tal padrão Globo de qualidade, decerto um dos ideologemas mais badalados da mídia de Bruzundanga. A maioria, porém, ignora sob quais condições foi possível erguer esse ‘mito’, fruto das ótimas relações travadas pela família Marinho com o regime militar, assim como da generosa bênção do grupo Time-Life. E que bênção! Entre 1962 e 1966, a corporação estadunidense “emprestou” mais de US$ 6 milhões à rede do Dr. Roberto para sua instalação no país (escândalo investigado à época por uma CPI do Congresso que, mais uma vez, terminou em pizza).
O imbróglio Globo/Time-Life só foi “legalizado” graças à intervenção dos VIP da ditadura, entre eles os marechais (Castelo Branco, Costa e Silva) e generais (Geisel, Figueiredo, Golbery) e seus ministros (Roberto Campos, Euclides Quandt de Oliveira e ACM). Afinal, foram eles que viabilizaram a difusão do sinal da emissora por 98% do território nacional: vale lembrar que a Globo foi fundada no mesmo ano da Embratel (1965), servindo-se da rede de transmissão por micro-ondas e via satélite que o regime criou e expandir para tornar-se a cadeia ‘oficial’ do país.
É claro que, à parte o apoio financeiro e técnico da empresa ianque, que consolidou na TV o conceito de programação em grade até hoje absoluto na tela (que, no horário nobre, das 18 às 22 h, fixou a tríade novela, jornal & entretenimento), houve inovações capazes de seduzir o público, sobretudo na área da teledramaturgia, em que, sem dúvida, a Vênus Platinada muito se destacou. Afinal de contas, para quem crescera habituado ao dramalhão mexicano, novelas como Bandeira 2 (1971), O Bem-Amado (1973), Saramandaia (1976) e Roque Santeiro (na tela em 85, após censura em 75), do saudoso e genial Dias Gomes, eram uma autêntica epifania.
A Globo, de fato, promoveu uma reviravolta no folhetim eletrônico, sobretudo nos horários das 20 e 22h, em que havia espaço para uma estética mais realista e certos experimentalismos formais. Inclua-se, ainda, nessa faixa a produção de obras excepcionais, como Morte e Vida Severina (1981), Grande Sertão: Veredas e O Tempo e o Vento (1985), ou, já no século 21, Os Maias (2001) e Capitu (2008).
É claro que a abordagem de assuntos mais atuais sempre se deu sob a égide do “realismo estatístico”, com um olho na cena e outro nos índices de audiência. Assim, temas como violência, drogas e homossexualismo viriam à tona, mas sob o crivo da modernização conservadora de Bruzundanga. Por isso, o protesto de uma liga paulista da moral e dos bons costumes seria capaz de decretar a morte de duas homossexuais em Torre de Babel (1988). Ou, no caso exemplar de O Rei do Gado (1996), uma líder dos sem-terra deixaria seu movimento para casar-se com o fazendeiro, anulando-se por completo em uma trama na qual apenas os proprietários de terra tinham espaço diante das câmeras.
Fã de Jorge Amado, este escriba assiste a Gabriela – mas está consternado com os rumos que a novela tomou. Não há dúvida de que o sucesso cibernético de Avenida Brasil, cujo início promissor deu lugar ao ritmo histérico e esquizofrênico que norteia o embate Nina x Carminha (digno do pior dramalhão mexicano), pesou sobre a direção da novela. Para quem leu o romance, dói constatar como o conteúdo libertário da narrativa se diluiu em meio a uma teia de fuxicos sem fim, do Bataclan de Zarolha ao lar (e alcovas) dos ‘coronéis’. Afinal de contas, Gabriela dramatiza a modernização oligárquica do país, em que o velho coronelato cede passagem a uma elite empreendedora e ajustada aos novos ritmos do capital: Ramiro Bastos e Mundinho, de fato, não são inimigos – somente duas faces da mesma moeda espacial.
O mais triste, porém, é perceber que Nacib virou Tufão, totalmente idiotizado em cena. Quem o vê assim, jamais imaginaria que ele participa da vida pública e se posiciona firmemente na luta entre o ‘progresso’ (Mundinho) e o ‘atraso’ (Ramiro). O mesmo vale para Gabriela: composta como ícone da luta feminina contra a hipocrisia patriarcal, ela foi aprisionada às malhas do casamento e hoje é uma tosca retirante que só sabe recitar um mantra (“Seu Nacib é moço bonito!”). Eis aí a qualidade global, leitor…

Por: Luiz Ricardo Leitão é colunista do Brasil de Fato.

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